As novas faces do cinema

A Revista de CINEMA selecionou 10 novos diretores de maior destaque na estreia em longa-metragem, para mostrar quem são, o que fazem, suas influências e seus projetos futuros. Uma geração pluralista e autoral. São eles, Eduardo Nunes (“Sudoeste”), Tiago Mata Machado (“Os Residentes”), Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), André Ristum (“Meu País”), Vinícius Coimbra (“A Hora e a Vez de Augusto Matragra”), Helvécio Marins Jr. (“Girimunho”), Flávia Castro (“Diário de uma Busca”), Julia Murat (“Histórias que Só Existem Quando Lembradas”), Marco Dutra e Juliana Rojas (“Trabalhar Cansa”) e Sérgio Borges (“O Céu sobre os Ombros”).

Acompanhe, a cada semana, cada um desses diretores.

A trajetória de Flávia Castro

“Diário de uma Busca” é um filme diferente sobre a ditadura militar no Brasil. Flávia Castro, sua diretora, é uma filha do exílio. Nasceu em Porto Alegre e já aos cinco anos se exilava com os pais para nunca mais voltar a viver por lá. Passou por Chile e França. Voltou ao Brasil com a anistia. Estes passos estão todos lá, em seu primeiro longa. Oscilando entre o íntimo e a história oficial, entre o geral e o particular, talvez seja o único documentário brasileiro feito por um filho de militante.

O que a levou a este filme foi uma certa vontade de investigação. Seu pai, Celso Afonso Gay de Castro, morreu em 1984, na casa de um alemão, ex-cônsul do Paraguai no Brasil. Uma história misteriosa, da qual se sabe pouco. Desde o início, contudo, a ideia da cineasta era trabalhar em duas frentes bem definidas e que iam se alternando ao longo do filme: de um lado, a vida, do outro, a morte. “Diário de uma Busca” se tornou então uma espécie de filme-ensaio, uma tentativa de dar ordem a alguma forma de caos, de estabelecer uma linha, no caso de Flávia, entre a morte do pai em circunstâncias misteriosas, o desencanto da esquerda brasileira no passar dos anos, e, sobretudo, a sua própria trajetória de vida. Não é a toa que, quando perguntada sobre o que a levou ao cinema, Flávia tenha respondido: “na desordem: a literatura, o desenho, a música, o amor”.

“Diário de uma Busca” passou por mais de 30 festivais, somando 13 prêmios pelo mundo: “O lançamento comercial, no Brasil e na França, teve uma recepção da crítica excelente, mas isso não se traduziu nas bilheterias. Acho que o filme poderia ter atingido mais pessoas, mas daí tem a questão de ser documentário, e das dificuldades especificas do circuito de distribuição no Brasil hoje. O filme ficou mais tempo em cartaz na França do que no Brasil”, diz Flávia, hoje com 45 anos.

Diário de uma Busca

Flávia já fez um pouco de tudo no cinema, embora se diga mais roteirista. Na França, escreveu roteiros para séries de TV, e foi assistente de direção dos diretores Richard Dindo, em “Diário do Che na Bolívia” (1993), e Philippe Grandrieux, em “Le Jeu des Animaux” (1994). Voltou para o Brasil com duas experiências documentais completamente diferentes. Uma de roteiro preciso, sem improvisos. Outra que procurava integrar no filme tudo que acontecia ao redor. Em 2006, realizou seu primeiro curta-metragem, “Cada um com seu Cada Qual”, sobre uma menina de oito anos que vê uma caixa de papelão cair de um “burro sem rabo” e tenta devolvê-la a seu dono. “É difícil falar sobre influências, até porque, por vezes, as mais importantes não são aquelas das quais temos consciência. Mas, se for para citar nomes, o Cassavetes, pela pulsão de vida dos seus filmes”, confirma a cineasta, que se tornou mestre na Sorbonne com uma dissertação sobre John Cassavetes.

Flávia, aliás, anda bem ocupada. Além de abrir uma produtora com duas sócias, a Vaca Filmes, ela desenvolve um roteiro de longa chamado “As Vitrines”, um projeto com o cineasta Vicente Amorim (“O Caminho das Nuvens”) e termina o texto de seu segundo filme, uma ficção chamada “A Memória é um Músculo da Imaginação”, uma coprodução com a francesa “Lês Films Du Poisson”, já presente em “Diário de uma Busca”.

 

Por Julio Bezerra

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