Geração “Tiradentes”

A Mostra Tiradentes chega à sua 18ª edição reafirmando seu papel de vitrine do cinema experimental, realizado por jovens com outras propostas de expressão cinematográfica e modelos de produção diferentes do estabelecido pelo mercado. Este ano, o festival mineiro, que acontece de 23 a 31 de janeiro, vai exibir mais de 100 filmes ao longo de nove dias. Na competição, estão sete títulos, todos inéditos e assinados por realizadores de até três longas-metragens (Mostra Aurora) e nove curtas-metragens (Mostra Foco). Mais 81 curtas serão distribuídos em oito mostras informativas. Diversos longas-metragens convidados, sem obrigação de ineditismo, serão apresentados ao grande público, formado pela população de Tiradentes e visitantes que chegam de diversos municípios da região do ouro de Minas e de outros Estados.

Uma das características da Mostra Aurora deste ano é a presença de cineastas que concorreram na mesma mostra com seus longas de estreia em anos anteriores, como Ivo Lopes Araújo, Dácia Ibiapina e Rodrigo de Oliveira, e que retornam com seus novos filmes ao festival em que foram lançados, hoje praticamente o único que se dedica exclusivamente ao cinema do “extremo autoral”.

“O Animal Sonhado”, de Breno Baptista, Luciana Vieira, Rodrigo Fernandes, Samuel Brasileiro, Ticiana Augusto Lima e Victor Costa Lopes

Competição tem sete filmes inéditos

A competição do evento é reservado à Mostra Aurora, com sete filmes inéditos no país; “A Casa de Cecília”, de Clarissa Appelt, e “Mais do que Eu Possa me Reconhecer”, de Allan Ribeiro, do Rio de Janeiro; “O Signo das Tetas”, de Frederico Machado, do Maranhão; “Ressurgentes: um Filme de Ação Direta”, de Dácia Ibiapina, do DF; “Teobaldo Morto, Romeu Exilado”, de Rodrigo de Oliveira, de Vitória, e os cearenses “Medo do Escuro”, de Ivo Lopes Araújo, e “O Animal Sonhado”, do coletivo formado por Breno Baptista, Luciana Vieira, Rodrigo Fernandes, Samuel Brasileiro, Ticiana Augusto Lima e Victor Costa Lopes.

“Teolbaldo Morto, Romeu Exilado”, de Rodrigo de Oliveira

Segundo a curadoria realizada por Cleber Eduardo e seu curador-assistente Francis Vogner dos Reis, os critérios de seleção levaram em conta os filmes “marcados pelo risco e pela produção independente, além da diversidade estética e geográfica da produção brasileira recente”. A curadoria atesta que além “da grande diversidade de geografias de produção”, a Mostra Aurora dá ênfase às “novas formas de realização”, já que “os selecionados foram feitos a partir de apoio de editais públicos, por financiamento coletivo ou produção totalmente independente”.

“Ressurgentes”, de Dácia Ibiapina

A presença de mais um filme, “Medo do Escuro”, dirigido por Ivo Lopes Araújo, fotógrafo de dezenas de curtas e longas-metragens que têm Tiradentes como principal vitrine, retorna com uma nova experimentação. Na primeira edição da Aurora, ele participou com “Sábado à Noite”, ensaio poético feito para o DocTV-MinC. O documentário foi ampliado e exibido em Tiradentes. Sete anos depois, Ivo regressa à Tiradentes como diretor com “Medo do Escuro”, filme que segue as trilhas do ensaio poético retratando um homem solitário que vaga perdido por uma cidade pós-apocalíptica.

“Medo do Escuro”, de Ivo Lopes Araújo

Dácia Ibiapina volta à Mostra Tiradentes com “Ressurgentes: um Filme de Ação Direta” (antes mostrou seu longa “Entorno da Beleza“). O novo filme, segundo a diretora, “tangencia o pensamento político, a visão de mundo, bem como as ações diretas de um grupo de militantes de movimentos autônomos do DF no período de 2005 a 2013. As imagens do filme se misturam a vídeos feitos pelos personagens ao longo dos últimos dez anos, em meio a ações diretas de protesto”.

“A Casa de Cecília”, de Clarissa Appelt, mostra a relação de duas garotas durante algumas semanas em uma casa vazia. Já “Mas do que Eu Possa me Reconhecer”, de Alan Ribeiro, é sobre um artista plástico que descobre na videoarte uma forma de suprir sua necessidade de fazer cinema de outra maneira. O segundo filme de Frederico Machado, realizador de São Luiz, no Maranhão, é uma experimentação que tem a presença corporal como destaque, e relata a história de um padre, no limiar entre a razão e a loucura, entre o caos e a fé, em busca de seu passado, percorrendo as estradas do interior do Maranhão em direção à sua terra natal.

“O Signo das Tetas”, de Frederico Machado

“O Animal Sonhado”, uma colagem de seis curtas tendo como tema comum o desejo, o corpo e o erotismo, é realizado por um coletivo de jovens diretores do Ceará, Breno Baptista, Luciana Vieira, Rodrigo Fernandes, Samuel Brasileiro, Ticiana Augusto Lima e Victor Costa Lopes. “Teobaldo Morto, Romeu Exilado”, de Rodrigo de Oliveira, se passa em uma pequena cidade do interior e narra o reencontro de dois amigos, quando um retorna após ser dado como morto. O filme foi realizado com R$ 700 mil do fundo do governo do Espírito Santo para filmes de longas-metragens realizados por diretores capixabas.

“Mais do que Eu Possa me Reconhecer”, de Allan Ribeiro

 

Por Maria do Rosário Caetano

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