Medo paralisante

A diretora e roteirista Gabriela Amaral Almeida tem construído um estilo particular ao longo de seus curtas, usando o humor e o fantástico para trabalhar certas ansiedades sociais. Após o sucesso em festivais com filmes como “Náufragos” (2010), dirigido com Matheus Rocha, e “A Mão que Afaga” (2012), Gabriela chega ao quinto trabalho com “Estátua!” (2014), filme que já rendeu a ela o prêmio de melhor roteiro em Brasília, além de dupla premiação à protagonista Maeve Jinkings, em Brasília e no Curta Cinema, e recentemente o prêmio de melhor curta do júri da crítica da Mostra Tiradentes.

“’Estátua!’ traz à tona o tema controverso do medo do desconhecido – aqui representado pelo medo de se tornar mãe – a partir da história de Isabel [Jinkings], uma babá gestante que questiona a sua vocação para a maternidade ao cuidar de Joana [Cecília Toledo], uma menina misteriosa e de temperamento difícil”, conta Gabriela. “A história surge a partir de minha relação com os temas caros à história: a maternidade, a mulher na sociedade, a mulher e o seu corpo, a relação tirana (no Brasil) de crianças para com suas babás etc.”, complementa.

O título do filme vem de uma tradicional brincadeira, que consiste em congelar a posição quando alguém grita “estátua”. “A brincadeira, no filme, surge como uma metáfora para a imobilidade”, explica a roteirista de “Quando Eu Era Vivo” (2014), ao lado de Marco Dutra.

Gabriela constrói a atmosfera do filme, feito com o Prêmio Estímulo do governo do Estado de São Paulo, entre a ansiedade do medo e o humor absurdo das situações, com destaque, nesse segundo viés, para a atriz mirim Cecília Toledo. “Os melhores filmes de horror, para mim, são aqueles que combinam picos de tensão com zonas de alívio – por vezes, cômico –, criando um gráfico emocional colorido, diverso. Não consigo imaginar uma situação tensa sem um contraponto absurdo e/ou engraçado, e por isso ‘Estátua!’ trafega entre estas duas zonas. O riso relaxa, dando tempo para que a dramaturgia prepare a próxima armadilha. É o que gosto de ver, quando penso em filmes de horror: alternância de sensações. Senão, fico entediada”, comenta a diretora.

Atualmente, além de escrever o roteiro dos próximos filmes de Walter Salles e de Márcia Faria, Gabriela prepara seu primeiro longa-metragem como diretora, “A Sombra do Pai”. O filme participou, em 2014, do laboratório de roteiro e direção do Sundance Institute, e está em fase de captação.

 

Por Gabriel Carneiro

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