A Film Commission como motor de desenvolvimento econômico

A febre das Film Commissions (FC) no Brasil continua a se espalhar pelo país. Em 2008, havia 19 FC’s em atividade “visando a atração de produções audiovisuais internacionais e o posicionamento do Brasil como provedor de locações de forma competitiva no mercado global de entretenimento”. Atualmente, de acordo com os dados da Rede Brasileira de Film Commissions – REBRAFIC, existem 25 FC’s espalhadas pelas cinco regiões do país, sendo nove formalmente constituídas e dezesseis em processo de implantação.

A Film Commission, denominação reconhecida internacionalmente de um escritório de apoio à produção audiovisual, oferece serviços gratuitos de apoio logístico e facilitação de autorizações de filmagem de todo tipo de conteúdo audiovisual, e tem como objetivos principais: o atendimento eficiente a produtores e a promoção da cidade ou do Estado como destinos privilegiados para filmagens.

Existem vários motivos para um município ou Estado estabelecer uma FC. Dentre eles, estão a promoção do turismo e a visibilidade da região, além de fins políticos. No entanto, no Brasil, assim como em muitos países, o principal motivo que leva à criação de FC’s, nas esferas municipal e estadual, continua sendo a promoção do desenvolvimento econômico e geração de empregos.

Os benefícios econômicos gerados por uma FC são bem atraentes. Nos EUA, por exemplo, as atividades de filmagem de um longa-metragem de um estúdio “major” de Hollywood geram, em média, US$ 200 mil por dia, em atividade econômica e receitas públicas, de acordo com dados da Motion Picture Association of America (MPAA).

No entanto, não é necessário um filme de estúdio de Hollywood para captar os benefícios econômicos da filmagem local. O aumento da produção de todo tipo de formato de conteúdo audiovisual no Brasil e, especialmente, da produção de TV independente, em função da recente Lei nº 12.485/11 (Lei da TV paga), têm provocado um boom de filmagens em diversas regiões do país, o que contribui com o desenvolvimento econômico e a criação de empregos.

Portanto, as FC’s podem exercer um papel fundamental na estratégia de desenvolvimento econômico de uma cidade ou Estado. Não é coincidência que nos EUA, e em muitos outros países, as FC’s estejam vinculadas diretamente a um escritório ou departamento de desenvolvimento econômico de um ente público da região a qual pertençam. No Brasil, e na América Latina em geral, as FC são normalmente subordinadas a uma Secretaria de Cultura, mas isso não impede seu efeito positivo na economia local.

A metodologia empregada para mensurar os benefícios econômicos de filmagem em locação é conhecida como Estudo de Impacto Econômico, e constitui a ferramenta mais importante para dimensionar os benefícios econômicos e os empregos gerados pela atividade de filmagem audiovisual efetuada em determinada região. Tais estudos servem de base para validar as atividades da FC dentro de uma estratégia para desenvolvimento econômico, e demonstram a importante contribuição que uma FC pode oferecer para uma cidade ou um Estado que queira consolidar uma posição competitiva no cenário audiovisual global. As conclusões assim geradas também poderão ser utilizadas para recomendar políticas públicas e a implantação de incentivos econômicos e fiscais através de iniciativas legislativas apropriadas.

O Estudo de Impacto Econômico normalmente está baseado em uma pesquisa de mercado de gastos diretos e indiretos realizados por dois grupos: empresas produtoras e empresas provedoras de serviço de filmagens, bem como empresas de serviços de apoio (empresas de segurança, catering e aluguel de equipamento). Além disso, o Estudo leva em consideração o número de filmagens na região, o número de dias de cada filmagem, os dias de uso de hotéis, o transporte local, a mão de obra em geral, os figurantes contratados, os contratos de locação de equipamento etc.

Uma vez realizada a pesquisa, os dados colhidos são sujeitos à aplicação de coeficientes ou “multiplicadores econômicos” apropriados (geração de renda e empregos) para a avaliação do impacto econômico para cada formato de produção audiovisual: 1) longa-metragem de ficção; 2) longa-metragem de documentário; 3) séries de TV; e 4) filmes publicitários.

O modelo de impacto econômico mais utilizado é o RIMS (Regional Input-Output Modeling System, desenvolvido pelo Bureau of Economic Analysis of the US Department of Commerce). Historicamente, esta metodologia que utiliza uma matriz de coeficientes para medir efeitos em cascata, tem sua origem nas teorias do economista russo Wassily Leontief, da década de 1930.

No exemplo do gráfico a seguir, cada R$ 1,00 gasto em bens, serviços, impostos etc., gera um valor final de R$ 2,39 de gastos acumulados, descontada a perda parcial sucessiva. Portanto, o multiplicador é 2.39.

Quem são os beneficiados pelas atividades de filmagem? Primeiramente, os beneficiados diretos são os produtores de conteúdo audiovisual. E, por este motivo, as principais associações de produtores do Brasil estão representadas no Conselho Consultivo da Rede Brasileira de Film Commissions-REBRAFIC. São elas: a Associação Brasileira de Produtores Independentes de TV – ABPITV, Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual – SICAV, Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo – SIAESP, Associação Brasileira de Produtores de Obras Audiovisuais – APRO, Fundação de Cinema do Rio Grande do Sul – Fundacine e Cinema do Brasil.

A REBRAFIC tem como objetivos principais assegurar um nível alto e padronizado de apoio aos produtores nacionais e internacionais, promover todas as regiões do Brasil como locações privilegiadas para produções nacionais e internacionais, e organizar e disponibilizar informações de film commissions de todas as regiões do país. Assim, a REBRAFIC será o apoio e força por trás de cada film commission no Brasil, no seu papel como motor de desenvolvimento econômico.

 

Por Steve Solot, presidente da Rio Film Commission – www.riofilmcommission.com e Diretor Executivo da Rede Brasileira de Film Commissions – REBRAFIC – www.rebrafic.net

 

One thought on “A Film Commission como motor de desenvolvimento econômico

  • 3 de junho de 2015 em 14:25
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    O principal problema do cinema brasileiro é a dependência do estado e a distribuição. O nosso sistema de produção tem que deixar de ser estatal e ser privatizado. O empreendedorismo é uma saída para resolver estes problemas, ou seja medidas capitalistas!

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