Galinhas em transe

Uma galinha antropomorfizada de animação delira, sonha que é uma galinha de live action, hipnotizada na Av. Paulista. O desvario perturba seu cotidiano. Com essa premissa, o paulista César Cabral construiu seu mais recente curta-metragem, “Giz” (2015), lançado no Anima Mundi, com passagens pelo Festival de Curtas de São Paulo e pela Goiânia Mostra Curtas, entre outros. Cabral se destacou em 2008 com seu “Dossiê Rê Bordosa”, misturando animação com documentário. Veio, em seguida, “Tempestade” (2011), uma animação poética. “Giz”, por sua vez, retoma a animação em stop motion, mas, dessa vez, ao lado de cenas live action e timelapses.

Assim como “Tempestade”, “Giz” é um filme sensorial, quase todo baseado em sua construção atmosférica. “O filme segue uma lógica que tenta inverter o mundo real com o stop motion, onde o real do personagem (animação) se deparada com seu onírico (nosso real). O personagem sonha com galinhas reais, mas essa situação, galinhas hipnotizadas na Paulista, nos é surreal”, explica César Cabral. “A atmosfera do filme sugere esse estado onírico do personagem, onde nunca temos muita certeza do que está acontecendo. O que vemos de imagem real é um sonho, mas o cotidiano do personagem, seu trabalho, também é um sonho, ou ao menos um estado de transe. O filme caminha nesse sentido e, a cada nova situação, vamos acrescentando e misturando esses dois mundos”, complementa. O universo do cineasta David Lynch, de onde o curta parece beber, é inclusive explicitamente evocado, com aparições na televisão da web-série “Rabbits” (2002), em que coelhos antropomorfizados têm discussões existenciais.

“Giz” nasceu de uma ideia de intervenção de um amigo de Cabral pela cidade, aonde personagens/atores iriam deixando galinhas ‘hipnotizadas’ pelo caminho. Inicialmente, seria um registro dessa ação com as galinhas. Pelo interesse em aproximar o mundo real do stop motion, resolveu desenvolver um curta. Realizado ao longo de um ano de produção, com R$ 70 mil, “Giz” conta com cenas em live action de várias galinhas paradas no meio da Av. Paulista, em São Paulo. Para tal, Cabral contou com uma equipe com quatro câmeras e 12 atores, além de preparador de animais e equipe de apoio.

Atualmente, Cabral desdobra dois projetos do curta “Dossiê Rê Bordosa”, seu mais bem sucedido filme em questão de crítica e circulação de festivais. O filme investiga a morte da personagem Rê Bordosa, do cartunista Angeli, a partir de depoimentos. O universo de Angeli é tema de uma série, “Angeli the Killer”, com 13 episódios de 11 minutos, e seu personagem Bob Cuspe protagoniza o longa “Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente”, nos mesmos moldes do curta.

 

Por Gabriel Carneiro

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