Spcine promove circulação de filmes paulistas no exterior

Depois de lançar um circuito de salas na cidade de São Paulo, recuperando e modernizando espaços nos Centros Educacionais Unificados (CEUs), na periferia e em alguns centros culturais tradicionais, a Spcine acaba de lançar um programa dedicado à formação de público para os filmes brasileiros no exterior. Intitulado SP Mundus, a iniciativa prevê o lançamento de longas-metragens produzidos por empresas paulistas em salas não comerciais da América Latina e da Rússia, vinculadas às instituições parceiras da agência. O edital foi lançado em agosto e o resultado está previsto para ser divulgado até o final de setembro.

Serão contemplados 20 filmes e a verba total é de R$ 96 mil, que será dividida de acordo com a demanda de cada país. Se um filme gerar mais interesse e for programado em mais salas, por exemplo, receberá mais recursos do que um outro que tenha menos sessões. O edital prevê, no entanto, que cada instituição estrangeira programe ao menos seis filmes para a exibição em suas respectivas redes. O aporte será pago diretamente para o detentor brasileiro dos direitos patrimoniais, como o produtor ou o agente de vendas, e não para o parceiro estrangeiro. Ou seja, como se trata de uma exibição não comercial e sem a intermediação de um distribuidor local, a sala não receberá recursos brasileiros, mas poderá cobrar ingressos simbólicos do público.

Condições para a seleção dos filmes

Para a seleção dessa cartela de filmes, serão levados em consideração alguns aspectos fundamentais que darão um norte à comissão julgadora, seguindo uma avaliação específica de, no máximo, 100 pontos. Só poderão concorrer longas-metragens de ficção, documentário ou animação, lançados nas salas de cinema do Brasil nos últimos dois anos, isto é, a partir de agosto de 2014. No quesito Valor Cultural, a originalidade e a criatividade valem 30 pontos, assim como a “mistura de culturas ou conceitos comunitários de maneira que empenhe as audiências dos respectivos territórios e além deles”. Também será analisada a performance do filme, com pontuação menor. Terá peso 20 o quesito “público alcançado no mercado brasileiro, na relação público/sala”, e também 20 pontos, o item “prêmios que o filme ganhou em sua carreira de festivais”.

O acordo de exibição foi firmado com três instituições. Uma delas é a RECAM – Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul, que se dispôs a exibir regularmente as obras em sua rede de 30 salas, localizadas na Argentina, no Paraguai, no Uruguai e até mesmo no Brasil. A Cineteca Nacional do México programará os filmes em dez salas e a Russian Filmmaker’s Union fará uma mostra dos longas em sete salas de diferentes cidades da Rússia, totalizando 47 telas no escopo geral de difusão do programa.

Internacionalização dos filmes

Segundo Eduardo Raccah, coordenador internacional da Spcine, a aproximação com esses parceiros começou em 2014, em reuniões realizadas, principalmente, nos mercados dos dois maiores festivais de cinema do mundo: European Film Market, do Festival de Berlim, e no Marché du Film, do Festival de Cannes. No mercado argentino Ventana Sur, as conversas com os parceiros da RECAM também se intensificaram. De lá para cá, foram dois anos para amadurecer o projeto, aguardar a formalização jurídica da própria Spcine e também dos recursos que seriam disponibilizados para o programa.

Embora o projeto não preveja retorno financeiro, Raccah confirma que, ao menos, será solicitado às instituições que haja uma contabilidade do público. Essa informação sobre o número de ingressos vendidos para filmes brasileiros no exterior é bastante escassa e dispersa, de uma maneira geral, e não se configura como uma exigência da Agência Nacional do Cinema (Ancine) para os produtores brasileiros ou distribuidores internacionais que lançam os filmes em outros países. Com isso, fica mais difícil conhecer esse mercado estrangeiro e inclusive elaborar políticas públicas, a exemplo deste programa lançado pela Spcine.

A partir dessa iniciativa da agência paulista, espera-se que esses dados comecem a ser, ao menos, computados. Segundo Raccah, “a ideia do SP Mundus é a formação de público para o cinema brasileiro e não fazer bilheteria no exterior. Nós procuramos simplificar o processo ao máximo, deixando menos burocrático e mais factível. Mas, nesse acordo com os parceiros, ficou estabelecida essa contagem dos ingressos e isso será importante, inclusive, para ter métricas e poder lançar metas mais concretas. Hoje, a Spcine não tem esses números, mas vamos lançar da melhor ou mais possível forma de se fazer”.

 

Por Belisa Figueiró

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