Jia Zhangke no “Filmes da Minha Vida” na Mostra SP

Na manhã de ontem, domingo (26), no Anexo do Espaço Augusta de Cinema, o cineasta chinês Jia Zhangke prestou comovente depoimento no projeto OS FILMES DA MINHA VIDA, da Mostra SP. Na plateia, lotada por cinéfilos, estavam a atriz (e mulher do cineasta) Zhao Tao (de “O Mundo” e “Um Toque de Pecado”, neste, ela interpreta a jovem que é espancada, com maços de dinheiro, por uma cliente e que se vinga de forma brutal), Walter Salles, diretor do excelente documentário “Jia Zhangke – Um Homem de Fenyang”, e o crítico francês Jean-Michel Frodon, colaborador de Walter Salles nas entrevistas deste filme.

Jia Zhangke relembrou suas memórias afetivas do cinema (e da vida), contou que nasceu em 1970, portanto em plena Revolução Cultural maoísta, tempo de muita censura e fome, falou da infância e adolescência em Fenyang e contou que foi estudar cinema na Academia de Pequim. Relembrou dois filmes que o marcaram profundamente: “Ladrões de Bicicletas”, de Vitorio De Sica (1948), e “Awaara” (1951), do indiano Raj Kapoor. “Como vêem” – brincou – “gosto muito de ladrões”. Na Academia de Pequim, Zhangke conheceu os grandes filmes mudos da Escola Soviética (de Eisenstein, Pudovkin, entre outros) e apaixonou-se pelas invenções estéticas que traziam. Conheceu, também, o cinema de Antonioni e Bresson, influências assumidas. E, dos chineses, sofreu o impacto de “Terra Amarela”, dirigido por Chen Kaige e fotografado por Zhang Yimou, os dois nomes de maior destaque da Quinta Geração (“Terra Amarela” foi exibido no Brasil, em 1987, na TV Manchete, como complemento da série “China”, dirigida por João e Walter Salles).

Jia Zhanke contou, também, que gosta muito do cinema de Hou Hsiao-hsien. Walter Salles conta que ouviu do cineasta chinês esta poderosa confissão de influências: “Antonioni me ensinou o que é o espaço; Bresson, o tempo; Hou Hsiao-hsien, a delicadeza”. Depois de finalizar seu longo e tocante depoimento, Jia Zhangke, na compahia da atriz Zhao Tao, de Walter Salles e de Frodon, autografou alguns exemplares de “O Mundo de Jia Zhanke”, magnífico (que belo projeto gráfico!) livro que registra o pensamento e a criação do diretor de “Plataforma”, “Stil Life”, “Inútil” e “Memórias de Xangai”. O livro é fruto do trabalho de Walter Salles, Frodon e Cecília Melo e foi lançado, no CineSesc, no último sábado, pela Cosac Naify e Mostra SP.

 

Por Maria do Rosário Caetano

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